Posicione-se ao lado do motorista. Destrua a moral dele. Faça-o acreditar que é desprezível e que você não confia em suas habilidades. Reclame da demora da viagem, diga que o ar condicionado de seu carro é uma bosta. O banco é desconfortável, o som horroroso. Para continuar esta destruição, mude a alavanca de marchas, pise em seu pé do acelerador. Tente assumir a direção do veículo, use o freio de mão, acione a seta para direção oposta. E após o acidente, culpe-o por direção perigosa.
É esta cena que está acontecendo na Europa. Todo o bloco surfou as mudanças energéticas limpas, sobre a onda do gás barato da Rússia. Agora, depois de induzirem o motorista e enfiar o carro no poste, o culpam pelo desastre que se tornou esta crise, que se arrasta por quase três anos. A recessão é inevitável no continente europeu. Esta é uma crise fabricada por no mínimo, incompetência política e administrativa de seus dirigentes. Enfiar todo o bloco em um embate com seu principal fornecedor de energia e alimentos, mostrou-se uma tolice. Este conjunto de problemas vem se construindo a alguns anos. A crise no oriente médio, envolvendo a Síria, que causou as levas de imigrantes em direção a Europa, foi um movimento que pode ter sido calculado, objetivando a preparação desta etapa da crise europeia. Olhando criticamente a linha cronológica dos acontecimentos ocorridos ao longo dos últimos dez a vinte anos, poder-se-ia dizer que, lembrando o saudoso personagem Chapolim, foram “friamente calculados”. Existem apenas duas hipóteses reais sobre como chegamos aqui, a primeira: um festival de incompetência, a segunda: um plano sórdido. Torço para que sejamos apenas incompetentes. Neste conjunto de fatores desastrosos, os mercados tentam teimosamente, seguir realizando resultados favoráveis, com o crescimento do emprego e a busca por novas formas de resolução dos problemas. A reorganização produtiva decorrente da re-globalização, segue mostrando seu rumo, a concentração que havia no oriente extremo, dá sinais de fraqueza. A busca por novos territórios onde alocar novas plantas produtivas, já mostra seus resultados. E por mais que lutem aqueles que desejam a derrocada da estrutura civilizatória, ela teima em sobreviver em meio ao caos que se forma a frente. Esta batalha promete ser longa, teremos por muito tempo a volatilidade dos mercados como premissa em nossas decisões, a instabilidade e a insegurança são as novas bases de fundamentos. O que hoje parece solido, amanhã já não se confirma. Estabilizar o barco, em esse mar revolto é o desafio. Encontrar sinais de solidez, passa se a diretriz máxima nesta tempestade. Como marinheiros em uma tormenta, seguimos buscando sinais de calmaria. No dia de hoje os mercados, como um alcoólatra em recuperação, buscam o equilíbrio só por hoje. Com movimentos dos governos europeus para reforçar a economia, os pregões respiram aliviados ensaiando alguma alta por lá. Os EUA também seguem nesta porção de otimismo. O mercado brasileiro descolou-se parcialmente dos movimentos da luta política. Os números da economia brasileira animam os que buscam algum rendimento, mesmo que temporário. Há muitos acontecimentos por vir, e a instabilidade derrubará os incautos. E como não é sensato parar um carro, segurando o velocímetro, reduza a velocidade e siga em direção defensiva. Nevoeiro sempre é perigoso. Um bom dia e feliz duzentos anos de independência.
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